Nos últimos meses a população tem se deparado, seja nas redes sociais ou aplicativos de mensagens, com várias notícias alarmistas, muitas vezes sem se dar conta disto. Frequentemente, estas informações são compartilhadas sem verificação da sua veracidade e rapidamente se espalham. O problema é que muitas delas são notícias falsas, as chamadas fake news.
Segundo o farmacêutico e coordenador técnico do Centro de Informações Antiveneno da Bahia (Ciave-BA), Jucelino Nery, o Centro tem acompanhado este fenômeno e tem procurado esclarecer algumas destas notícias relacionadas à área da saúde, mais especificamente referentes a envenenamentos.
Dentre estas notícias, temos como exemplo:
1) Risco fatal no uso medicamentos contendo a substância fenilpropanolamina, que estaria presente em 22 medicamentos e provocando efeitos adversos fatais em usuários. A verdade é que a fenilpropanolamina era utilizada em alguns medicamentos disponíveis no Brasil, mas foi retirado do mercado, há 17 anos, depois que a Food and Drug Administration (FDA), agência americana, constatou que a substância provocou hemorragia cerebral fatal em alguns usuários. Apesar de não terem sido registrados casos no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o seu uso no país, através da Resolução RDC nº 96/2000. Em junho de 2017 a Anvisa divulgou nota sobre a questão. Atualmente, nenhum medicamento disponível no mercado brasileiro possui a fenilpropanolamina.
2) Surgimento uma nova espécie de cobra muito venenosa nas praias da ilha de Itaparica (BA). Neste caso, além dos fortes indícios de boato por conta das características da notícia e do vídeo divulgado mostrar uma víbora do Deserto do Saara, inexistente no Brasil, a questão foi verificada junto aos serviços de vigilância epidemiológica dos municípios de Itaparica e Vera Cruz, não tendo sido registrado o suposto aparecimento. Em novembro de 2017 o Ciave publicou nota de esclarecimento sobre o assunto.
3) Ocorrência de intoxicação provocadas por pirulito com energético. Esta notícia preocupou pais e mães Brasil afora. Segundo a mensagem, o pirulito “Blong Energy”, da marca Peccin, teria provocado sintomas como falta de ar, vômito, queda de pressão, sangramento nasal, tosse e aumento da frequência cardíaca na garotada. Segundo consulta feita pelo Ciave aos profissionais dos diversos centros de informação e assistência toxicológica do país, nenhum caso do tipo havia sido registrado. A fabricante do pirulito divulgou uma nota em seu site e perfil no Facebook informando que o seu produto não possui “nenhum ingrediente energético, estimulante ou alcoólico” em sua composição. Mais uma vez o Ciave buscou informar a verdade à população.
4) Mais recentemente, circula alerta sobre o contato com lagarta (Lonomia) que pode causar hemorragia e até matar, não havendo soro contra o veneno. Aqui, algumas informações são verdadeiras (ocorrência durante o verão em áreas próximas da Mata Atlântica; o risco de morte – apesar de ser raro; ficam aglomeradas em árvores. Por outro lado, segundo Jucelino Nery, o soro específico (antilonômico) existe e está disponível no país desde os anos 90. De acordo com o farmacêutico, não tem sido registrado acidentes por este tipo de animal na Bahia. Ainda assim, o Ciave está preparado para a ocorrência. No caso de um possível aparecimento, alerta, deve-se acionar o Centro de Controle de Zoonoses do município para remoção dos animais e não tocá-los. Havendo acidente, conduzir a vítima o mais rapidamente possível para uma unidade de emergência e contatar o Ciave para obter orientação específica.
A equipe técnica do Ciave, órgão da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), alerta para o cuidado ao repassar essas informações alarmantes que recomendam o compartilhamento, devendo se certificar se não se trata de notícia falsa, através de sites especializados (como o www.boatos.org e o www.e-farsa.com.br). A questão preocupa, pois pode haver repercussões negativas à saúde em virtude da divulgação de informações inverídicas ou incorretas junto à população.
As falsas notícias, em geral, possuem algumas das seguintes características: tom alarmista; uso de algumas palavras em letras maiúsculas para chamar a atenção do leitor; sem data para dar a impressão de que a notícia é recente; uso de nomes de pessoas que não existem; sem autoria ou fontes confiáveis; mistura fatos reais com ficção; pede para ser repassada ao maior número de pessoas.
Duas universidades federais, da Paraíba e de Minas Gerais, realizaram recentemente estudo sobre o assunto. Outra pesquisa foi publicada na revista Science, no dia 09/03, desenvolvida por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e afirma que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e alcançam muito mais gente. No final das contas, a grande prejudicada é a população.
Fonte: Blogspot Ciave-BA