Riscos dos agrotóxicos segundo a ONU

por Alexandre Ressurreição

A luta contra a utilização de agrotóxicos na produção de alimentos mais uma vez ganha destaque na Organização Mundial das Nações Unidas (ONU). No início deste ano, foi publicado um relatório pelo Conselho de Direitos Humanos sobre o direito à alimentação, que se propõe a estabelecer uma visão mais clara sobre os riscos do uso dos pesticidas na agricultura em todo o mundo, bem como informar o quanto esta prática afeta os direitos humanos a uma alimentação segura. Além disso, o documento aborda as consequências negativas que o uso destas substâncias provoca na saúde humana, no meio ambiente e na sociedade e aponta para a necessidade de se construir sistemas de produção mais sustentáveis.

 

Uma das questões alarmantes abordada neste documento é a intoxicação aguda por pesticidas, aquela cujos sintomas após o contato com uma substância tóxica são percebidos de forma mais imediata. Esse tipo de intoxicação é responsável por cerca de 200 mil mortes/ano no mundo e a grande maioria destas mortes (99%) ocorrem nos países em desenvolvimento. Segundo o relatório, a vulnerabilidade destes países se dá em virtude de eles apresentarem normas em matéria de saúde, segurança e meio ambiente menos restritas, sendo aplicadas com menos rigor.

 

Além da intoxicação aguda, efeitos crônicos da exposição aos agrotóxicos também são motivos de preocupação. De acordo com o relatório da ONU, o contato com os pesticidas pode causar câncer, Alzheimer, Parkinson, transtornos hormonais, problemas de desenvolvimento e esterilidade. Os pesticidas também podem causar danos neurológicos, como perda de memória, bem como redução da capacidade visual ou motora. Outros possíveis efeitos são asma, alergias e hipersensibilidade.

 

O documento ainda contesta o argumento da indústria agroquímica da necessidade dos agrotóxicos para garantir a produção de alimentos em larga escala a fim de assegurar a alimentação da população mundial. O Conselho de Direitos Humanos defende que a produção de alimentos não deve ser observada somente do ponto de vista da quantidade produzida, mas também da qualidade do que chega à mesa da população. Além disso, denuncia que a grande questão da fome no mundo está relacionada a um sistema não equitativo de produção e distribuição destes alimentos entre os países, e relata que a produção atual já seria capaz de alimentar todo o planeta.

 

O Conselho ainda apresenta a agroecologia como uma alternativa mais segura ao uso de pesticidas na agricultura, afirmando que estudos já indicam este sistema de produção como capaz de produzir rendimentos suficientes para alimentar a população mundial e garantir sua adequada nutrição.

 

O relatório foi traduzido para os seis idiomas oficiais da ONU. Para lê-lo na íntegra, acesse aqui.

 

(Foto do banner homepage: FAO / Asim Hafeez)

 

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